O poderoso bufão
author:: chicoary
source:: O poderoso bufão
clipped:: 2023-10-16
published:: abril 17, 2018
O Bobo da Corte Sebastián Morra
O personagem aqui retratado foi um dos anões da corte espanhola da época de Velázquez. Com origem na tradição caridosa medieval, as cortes européias do século XVII costumavam incorporar pessoas excluídas do contexto social (por deficiências e limitações físicas ou psicológicas), especialmente os anões, para atuarem como truões (palhaços) e bobos da corte. Na rigorosa corte de Felipe IV, estes personagens tinham a liberdade de parodiar sobre os fatos e burlar as regras de etiqueta da época. Como não eram levados a sério, acabavam novamente excluídos e humilhados em suas atuações.
Será uma mensagem cifrada do Moro para os americanos? Se não me engano, do que depreendi do ‘embromation’ em Havard, ele conta do chefão cobrando a devolução do favor, não agora, mas no futuro. Será que o Moro está lembrando isso aos seus titereiros? ‘Olha lá, quando o bicho pegar no Brasil eu posso precisar da devolução do favor.’ É muito estranho ele ficar contando uma história de um filme (e livro) já imerso e bem conhecido da cultura pop mundial. Com uma diferença importante: no filme ‘O poderoso chefão’ é o ‘capo dos capos’ que cobra o favor.
Poderá um ‘soldado’, como é o Moro, que nem aspira a ‘capo’ dada a sua indigência mental, cobrar do seu grande capo, caudatário de todos os favores que fazem a diferença, cobrar alguma coisa que não passe de uma abjeta migalha pela entrega colossal de um país e da nação que ele comporta?
Tomara que, se ele escapar daqui, seja cuspido como bagaço de laranja pelo seus ‘bosses’ e fique o resto da vida amargando a ingratidão. Tem coisa pior que o inferno para esses carolas moralistas do que ser ignorado e acabar lembrado somente ao se revolver o lixo da História? Isto se não houver um ‘empty trash’.
O bobo do Moro, ou o Moro bobo, ou o abobado, o abestado, ou o Moro da Globo, as rimas e epítetos são infindáveis, não há necessidade de nenhuma musa fantática para a inspiração, segue o paradigma, com a sua sapiência concurseira, retratado por Velázquez: “[…] estes personagens tinham a liberdade de parodiar sobre os fatos e burlar as regras de etiqueta da época. Como não eram levados a sério, acabavam novamente excluídos e humilhados em suas atuações.”
Poderia me desculpar com os anões ao retratar, alegoricamente, Moro, como um anão. O anão representa “pessoas excluídas do contexto social (por deficiências e limitações físicas ou psicológicas), especialmente os anões, para atuarem como truões (palhaços) e bobos da corte.” Almas nanicas, almas pequenas ‘a la Pessoa’ , partidos nanicos, pessoas intelectualmente nanicas, são termos politicamente incorretos, segundo as patrulhas, mas metáforas significativas ao comunicar a pequena estatura de alguns personagens que infestam o nosso cenário atual, talvez emergentes possíveis dada a nossa cultura midiática facilitada nesses tempos da Internet e Redes Sociais. Este é o ‘anão’ espiritual, espiritualizado, de que se fala. Não o anão físico.
Redes sociais deram voz a legião de imbecis
Umberto Eco
Notas:
Umberto Eco também não precisa se desculpar com os verdadeiros imbecis pois falava daqueles que, não sendo imbecis, usurpavam o comportamento imbecil, apesar de todas as chances sócio-econômicas modernas à sua disposição. É claro que a Internet não foi invadida pelos imbecis. Não pelos verdadeiros.
É claro que este post é o resultado de uma leitura alternativa, uma perspectiva ‘a la Nietzsche’, uma interpretação suspeitosa, quando sabemos que os causídicos, segundo minha experiência, adoram ler sobre a Máfia e sonhar um dia desbaratar uma, ‘a la Eliot Ness’ ou ‘a la Mani pulite’, mas não conseguem ser mais do que uns mafiosos também, como se fosses acometidos de uma síndrome de Estocolmo ao serem sequestrados simbolicamente por aquilo que, no fundo, admiram veladamente.
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