O homem plenamente realizado e realista
author:: chicoary
source:: O homem plenamente realizado e realista
clipped:: 2023-02-27
published:: março 4, 2020
O que caracteriza o super-humano? Será uma força extraordinária, uma vocação para dirigir ou dominar, o génio artístico, uma inteligência fora do comum? A ideia do super-humano é, na realidade, muito mais simples: é aquele que, sozinho, é capaz de suportar a provação do eterno retorno, porque é o único a aceitar plenamente a realidade, tanto a sua própria como aquela que o rodeia.
A espécie de homem que [Zaratustra] concebe, concebe a realidade tal como ela é: é forte o suficiente para isso —, ela não lhe permanece estranha nem distante dela, ela é essa realidade mesma, ela também contém em si tudo o que essa realidade tem de assustador e duvidoso, pois que é assim que o homem pode ter grandeza (Ecce homo. “Porque eu sou um destino”, 6).
Estar insatisfeito consigo mesmo e com a própria vida, aspirar a um ideal que contradiz a realidade, querer transcender-se a si mesmo e tornar-se outro são fraquezas típicas do ser humano. O homem que assumisse plenamente a sua realidade seria ainda um homem? Todavia, o simples desejo de uma outra humanidade, mais forte, mais realista, não equivale também a manifestar seu descontentamento para com o homem tal como ele é na realidade e aspirar a um ideal que nega a nossa realidade humana, demasiado humana? Por conseguinte, o esboço do super-homem não seria uma expressão de um ressentimento para com a mediocridade do homem real? Será que a invocação mesma do super-homem não contradiz os valores que Nietzsche proclama como pertencentes a ele?
O que está acima é uma citação de texto no capítulo Ser um arco estendido para o futuro do livro Afirmar-se com Nietzsche, de Balthasar Thomass.
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