Natal
author:: chicoary
source:: Natal
clipped:: 2023-10-05
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Se pudéssemos olhar, sem interferir na imagem, estando entre dois espelhos paralelos veríamos um mundo infinito. Repetição sem cessar de imagens como no globo de neve “englobando” globos infinitos repetindo-se no espaço e no tempo. Cada globo de neve numa casinha com um vidro negro rachado. Um “black mirror” infinito. Este é o final do episódio Natal com uma música que também se reflete e se repete continuamente mesmo ao quebrar-se o rádio.
Este episódio é recheado de distopias apavorantes derivadas de uma tecnologia com poderes inimagináveis. Usada com propósitos totalitários onde a punição é também infinitamente maior do que a falta. E arbitrária. Como é a justiça quando fruto de uma indignação que não julga a si própria.
No início do episódio uma escravidão virtual do próprio eu como servo que, nos conhecendo bem, pode nos atender melhor. Os cookies aprisionando num ovo a nossa consciência e memórias reduzidas a um código. Duas prisões perfeitas: os cookies e o bloqueio. O isolamento é o tema constante em ambos. Um isolamento em solitária: o cookie. O outro, um dos mais temidos, é o isolamento social, via bloqueio. Onde a metáfora da solidão no meio da multidão é implementada tecnologicamente. Como o que sentimos numa cidade estranha ou no estrangeiro quando lembramos que ninguém nos conhece e que não conhecemos ninguém. Quando não há um interesse numa interação derivada de um conhecimento e contato numa comunidade de onde nos originamos. E nós, gregários e animais sociais que somos, sucumbimos num desespero da extinção total da comunicação.