Há tantas saúdes quantas doenças - Afirmar-se com Nietzsche

Somente adoecendo descobrimos nossa saúde. Enquanto não havíamos adoecido, não tínhamos nenhuma razão para mobilizar nossos instintos de defesa e de cura. A saúde não é um estado estático que possuiríamos ou não. Trata-se de um estado dinâmico, de uma luta e uma conquista da doença. Todavia, não se trata tampouco do seu contrário, de um espaço contíguo ao território estrangeiro e hostil cuja fronteira teríamos atravessado. Entre saúde e doença, não há uma diferença de natureza, mas somente de grau3. A saúde é uma doença mais harmoniosa, mais enérgica e mais centrada. A doença é uma saúde espalhada, anárquica e esgotada. A saúde não é a ausência de doença – de infecções, de vírus, de deficiências, de malformações, de acidentes, de ferimentos, de defeitos hereditários – mas a defesa instintiva contra a doença.

Se a saúde é, antes de tudo, uma maneira de superar a doença, inevitavelmente há tantas saúdes quantas doenças. Não podemos mais admitir que exista apenas uma saúde, um estado normal do corpo, uma norma universal à qual deveríamos corresponder para sermos saudáveis. Tampouco há regras de vida ou de higiene válidas para todos, como os preceitos da OMS ou os conselhos da Academia de Medicina, que seria suficiente seguirmos para encontramos a nossa vitalidade máxima.

O desafio consiste então em descobrirmos a nossa própria saúde. Mas, sem conhecermos nossa doença, temos poucas chances de conhecer nossas defesas íntimas, nossa vitalidade singular necessariamente dirigida contra e despertada pelo que se opõe a ela.


ebook MOC Afirmar-se com Nietzsche, Balthasar Thomass

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