Drogas para que te quero
Diante de tanta hipocrisia sobre as drogas e seu combate o texto de Artaud dá o que pensar (trechos):
Deixemos que os perdidos se percam: temos mais o que fazer que tentar uma recuperação impossível e ademais inútil, odiosa e prejudicial. Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero." (Artaud -- sobre drogas: https://chicoary.wordpress.com/2008/07/11/artaud-sobre-drogas/)
Tive uma pequena discussão com alguém que se indignava com a liberação de porte de 40g de maconha. Declarei-me a favor da liberação irrestrita das drogas. Infelizmente não houve espaço para muito diálogo pois ele deu logo a carteirada: "Você não falaria isso se tivesse um filho drogado".
Diante do ocorrido fiquei pensando em como argumentaria se houvesse possibilidade de diálogo sem nenhum tipo de histeria moralista. Primeiro pensei em lembrar que o problema deveria ser encarado como problema de saúde e não como policial e de repressão. Melhor "chamar o ladrão" como dizia o Chico em plena e horrenda repressão e perseguição durante a ditadura. O que vemos é uma aumento do poder dos traficantes e seus financiadores além de uma pantomima de guerra às drogas, algo parecido com a "guerra ao terror". Esta última como arrimo da exceção e arbítrio "em favor da segurança", esta de interesse do estado e vendida como se fosse também do cidadão. Se meu filho "caísse nas drogas" e precisasse de ajuda numa abordagem de resolver um problema de saúde, física e espiritual (não no sentido religioso), era o que eu desejaria que fosse empreendido.
Aí vi onde meu argumento estaria com problemas. Não existe no capitalismo tal instituição que possa promover a saúde dos cidadão do ponto de vista corretivo, de recuperar alguém contra as drogas, e muito menos preventivo pois a principal prevenção é ter uma sociedade onde não há necessidade de recorrer a drogas para sanar o desespero, como bem o disse Artaud. Essa sociedade só poderia existir após a revolução que implantasse o socialismo e depois o comunismo.
Na raiz de muitas discussões sobre outros temas o fato de que corrigir o capitalismo, que busca o lucro como régua absoluta de sua eficácia e a exploração do trabalho, ser algo inviável é tarefa insanável e insana e veta qualquer desenvolvimento. Os recursos para uma sociedade verdadeiramente rica materialmente e espiritualmente são drenados e dragados pela acumulação capitalista com sua lógica de ferro dos seu "moinhos satânicos", como cunhou Polanyi. Nada resta de muito substancial para os explorados e mesmo assim o que resta é conquistado com muita luta e retirados com uma "penada" pelas forças reacionárias assim que podem.
Numa sociedade comunista o mantra "de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades" é uma diretriz que fala de uma administração técnica das necessidades e capacidades dos proletários que geram a riqueza deixando a política de alocação estratégica dos recursos que possibilitam essa administração técnica ao próprios trabalhadores em seus conselhos.