Descobrir a própria vitalidade através da doença - Afirmar-se com Nietzsche

Assim, nos piores tormentos, o doente descobre a vida que dormia nele. Diante da dor, ela se rebela, alimentando-se de qualquer coisa que a possa fortalecer. Em um primeiro momento, redescobrimos os pequenos prazeres fugazes, a importância do que é próximo e quotidiano, que havíamos esquecido em favor de interrogações metafísicas que parecem doravante vãs e deslocadas. Doentes, já não temos escolha: somos forçados a provar os mínimos detalhes para não sucumbir ao fatalismo. Cada sorriso se torna uma vitória, cada lufada de ar, uma delícia, cada raio de sol, uma bênção. Assim, conhecemos “a felicidade no inverno”, “as manchas do sol na parede”1. Nós aprendemos a gratidão pela vida, tal como lagartos se prostrando perante o sol.

Através da experiência da doença, algo muito importante aconteceu. A dor física nos forçou a superar nossas dores psíquicas, obrigados como estávamos a mobilizar todas as nossas forças psíquicas para resistir ao colapso do nosso corpo. A doença aparece assim como a cura mais eficaz contra o pessimismo.”

É assim que, de fato, me parece agora esse longo período de doença: eu redescobri, por assim dizer, a vida, inclusive a mim mesmo, experimentei todas as coisas boas e até mesmo as pequenas, como outros não conseguiriam fazê-lo facilmente – fiz da minha vontade de saúde, de viver, a minha filosofia... Que se atente a isso: os anos de estiagem da minha vitalidade foram aqueles nos quais deixei de ser pessimista; o instinto de reconstituição de si me proibia uma filosofia da pobreza e do desânimo” (Ecce homo. “Por que sou tão sábio”, 2).


ebook MOC Afirmar-se com Nietzsche, Balthasar Thomass

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