Borrifos importam - Entre baleias e crianças
Published in 09/11/2023 16:39
Lya Luft escreveu "Baleias não me emocionam".
A frase desse seu ensaio que acho que mais representa a sua opinião é "Mas eu preferia que tudo isso fosse gasto com eles [animais] depois de não haver mais crianças enfiando a cara no vidro de meu carro para pedir trocados, adultos famintos dormindo em bancos de praça, famílias morando embaixo de pontes ou adolescentes morrendo drogados nas calçadas.".
A autora revoltou os defensores dos animais.
Alguns argumentando que se tivessem que esperar que todas as crianças fossem "salvas" as baleias estariam perdidas para sempre.
Outros, ainda, arguiam que tanto a causa dos animais como a das crianças deviam ser endereçadas ao mesmo tempo.
Poderíamos facilmente tecer um paralelo entre o argumento da Lya Luft e aquele que reputa, de forma correta, que a esquerda se afunda no debate e nas manifestações de rua sobre a Palestina (poderiam ser as "baleias" da Luft) agora enquanto que abandona as pautas nacionais ("as crianças batendo no vidro do carro da Luft e da classe média").
Na verdade a esquerda têm abandonado sim é a mobilização de rua para qualquer coisa. A comoção forte do genocídio na Palestina é que teve o condão de levá-la, quase à força, para as ruas. E mesmo assim com algumas atitudes equivocadas.
Há também o argumento de que o massacre na Palestina é mais fácil de compreender e também tem um apelo forte devido às imagens cruentas que gera. As questões internas como isenção dos ricos na questão da taxação, políticas do banco central para os juros etc não falam à mente e muito menos ao coração de forma contundente. Mas é claro que podemos argumentar que a percepção sobre todos os assuntos pode se tornar mais enfática se for feito um trabalho militante persistente e coerente.
A esquerda devia atuar nas várias frentes. A de lutar contra genocídio da Palestina por ser algo fulcral para a luta dos trabalhadores em todo mundo e que terá consequências de cunho totalitário para todos nós. E no "front" interno por ser o "terreno" onde mais concretamente se dá a luta com a direita e extrema-direita que procura ocupar todo "vácuo" político deixado ao léu e sequestrar cada vez mais as pautas que são tradicionalmente defendidas pela esquerda.
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