Adoecer permite romper com os próprios hábitos - Afirmar-se com Nietzsche
O primeiro benefício da doença física é o de constituir uma ruptura. Ela nos obriga a romper com o quotidiano e nossos velhos hábitos. Ela nos permite nos soltarmos de nosso ambiente, de tudo quanto pareça reconfortante e confortável, mas que, na realidade, nos adormece e paralisa:
A doença libertou-me lentamente: poupou-me de toda ruptura, de toda atitude violenta e chocante. [...] A doença conferiu-me, ao mesmo tempo, o direito a uma transformação completa de todos os meus hábitos: permitiu-me, ordenou-me o esquecimento; presenteou-me com a obrigação ao sossego, ao lazer, à espera e à paciência... Mas é a isso que se chama pensar!” (Ecce homo. “Humano, demasiado humano”, 4).
Ao libertar-nos dos laços do quotidiano, a doença também solta o nosso pensamento. Na solidão e no repouso, este se emancipa das convenções que até então nos prendiam, e dos imperativos práticos que regulavam nossa vida social. Ele pode então divagar, se aventurar, levantar voo, mas também escavar, se incrustar no baixio, chafurdar na lama.
ebook MOC Afirmar-se com Nietzsche, Balthasar Thomass