A grande saúde é um diálogo com a doença - Afirmar-se com Nietzsche
Nietzsche formou o conceito de uma grande saúde. Trata-se de um olhar particular sobre a doença, que implica também um olhar particular da doença sobre a saúde. É combatendo a doença que aprendemos a ver nossa saúde e a experimentá-la. Em contrapartida, é graças a essa nova saúde que compreendemos nossa doença e detectamos suas manifestações onde acreditávamos estar saudáveis. Por essa grande saúde, a doença se torna um meio de conhecimento, um terreno de experimentação. E seríamos quase tentados a contrair um grande número de doenças para descobrir tanta saúde!
“A grande saúde [...] que nós não somente possuímos, mas que adquirimos constantemente, que somos forçados a adquirir, porque a sacrificamos sem cessar, porque devemos sacrificá-la sem cessar!” (A gaia ciência, V, 382).”
Numerosos são os exemplos históricos dessa grande saúde. Pode-se mesmo supor que toda grandeza humana nasça do combate, da superação, da sublimação de uma forma ou outra de doença, e isso, de uma maneira absolutamente pessoal e singular. Podemos ver a frase ofegante de Marcel Proust como uma maneira de viver com a sua asma, a percepção do espaço e das cores de Van Gogh como um significado dado aos seus transtornos mentais, a abstração formal das últimas obras de Beethoven como uma resposta à sua surdez crescente. Além disso, os grandes alcoólatras, como o escritor Malcolm Lowry, e os grandes toxicômanos, como o trompetista Chet Baker, mostram que certas pessoas têm necessidade de inventar a sua própria doença, de encontrar na dependência física e na tendência autodestrutiva o seu inimigo íntimo, o estimulante que eles precisavam para açoitar seu vigor, suas defesas, a fim de se concentrarem inteiramente na sua maneira de florescer.
ebook MOC Afirmar-se com Nietzsche, Balthasar Thomass