A doença, um caminho para o autoconhecimento - Afirmar-se com Nietzsche

Nietzsche compara assim a saúde com a liberdade de opinião: nós temos tanta necessidade de uma saúde própria quanto de uma opinião pessoal, porque “o que alguém precisaria para a sua saúde seria para o outro uma causa de doença” (Humano, demasiado humano, I, 5, 286). A travessia da doença torna-se assim uma busca de si.”

“Pois não existe saúde em si, e todas as tentativas de definir esse tipo de coisa fracassaram miseravelmente. É do seu propósito, do seu horizonte, das suas pulsões, dos seus erros e, em particular, dos ideais e fantasias da sua alma que depende a determinação daquilo que a saúde mesma deve significar para o seu corpo. Existem inúmeras saúdes do corpo” (A gaia ciência, III, 120).”

Foi a doença que obrigou certos homens notáveis a encontrarem sua vocação, seu remédio, sua saúde como nenhuma outra. Eles não tinham escolha. Se não encontrassem a sua via singular, eles certamente terminariam no hospital, no asilo, na prisão ou no cemitério. De uma certa maneira, devemos admitir que esses indivíduos são mais saudáveis, mais vigorosos e mais robustos do que nós, que vivemos no conforto de uma saúde padrão. Para eles, sem nenhuma dúvida:

“A doença é um poderoso estimulante. Mas é preciso ser suficientemente saudável para esse estimulante” (Fragmento póstumo de 1888, 15 [118]).”

Será que nós somos saudáveis o bastante para um tal estimulante? Talvez ignoremos a doença da qual sofremos, e talvez não tenhamos ainda descoberto os nossos próprios remédios, vitalidade e vocação. Qual será, então, a doença elusiva da qual sofremos, essa doença mais geral e mais fundamental, da qual derivam as doenças mais particulares?


ebook MOC Afirmar-se com Nietzsche, Balthasar Thomass

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