Houellebecq

author:: chicoary
source:: Houellebecq
clipped:: 2023-01-25
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2008-06-09-_michel_houellebecq_fot_mariusz_kubik_03Acabo de ler Submissão. Previamente li “O mapa e o território”. A leitura de “O mapa e o território” resultou de uma curiosidade sobre o conceito militar sobre “ficar com o território se o mapa for infiel”. Topei então com o título de Houellebecq. Comprei o livro na Estante Virtual.

8501093475_ngO conceito militar sobre “ficar com o terreno” está sendo usado como norteador para novos modelos para o desenvolvimento de empreendimentos. O livro “O mapa e o território” fala, entre outras coisas, do sucesso de uma obra de arte fotográfica baseada nos mapas Michelin. Achei interessante a leitura ao mesmo tempo angustiante pelo seu niilismo da vida satisfeita materialmente mas espiritualmente indigente. Não falo de espiritualidade do ponto de vista religioso. Mas do espírito no sentido nietzschiano. Que também é corpo mas ao mesmo tempo elevado na sua conexão com a vida e o que é bom para a vida.

O mapa e o terreno também podem remeter ao ideal platônico do mundo real e do mundo aparente. Não sei bem como. O mapa poderia ser a constelação dos ideais modernos e o terreno a vida cotidiana, pragmática, obrigatória, sem livre arbítrio, configurada pela política, economia, religião etc e instintos gregários. Este seria o terreno. Não o mapa. Não o que promete o mapa das nossas ilusões idealistas, talvez.

Capa Submissao_Alfaguara para novo padrao.inddInteressado em Houellebecq acabei lendo também “Submissão”. O tema do choque de civilizações é abordado nele como uma derrota factual frente ao Islã que se impõe pragmaticamente, sub-repticiamente, suavemente, sem rupturas porque usa a “submissão” já instalada no status quo. O status quo induzido pela degeneração das religiões nos seus aspectos de controle social através da submissão e apaziguamento a serviço do establishment.

Vi também o filme “Partículas elementares”, inspirado no seu livro.

O niilismo dos personagens principais em “O mapa e o território” e “Submissão” é o que mais me impressionou e angustiou. A preocupação com a “colonização inversa”, como chamo o que acontece na Europa em relação a corrente de migração das colônias para as respectivas metrópoles, foi para mim trivial e xenófoba como um direito ranzinza ao “jus sperneandis”. O argumento demográfico é impressionante ao relatar a fertilidade superior dos muçulmanos na França como força propulsora da futura dominação já que uma das fragilidades da democracia formal é a matemática fria das contagens nas urnas. Fertilidade que não é apanágio do muçulmanos, mas também dos pobres em geral. O niilismo dos personagens também engendra a solidão. Solidão mediada pelo contato tangencial com os outros. O máximo permitido pelo seu niilismo. A vida perdendo o valor. Os valores perdendo valor. Uma subvaloração da vida travestida de crítica.

Enfim, o niilismo, como bem o caracteriza Volpi, é o mal do século.

Cabe, porém, perguntar: Se é verdade que o niilismo começa quando cessa a vontade de nos auto-enganar, será possível, então, transformar a experiência dele em lição para nós, num poderoso convite à lucidez de pensamento e ao questionamento radical, num tempo em que os altares abandonados passam a se povoar de demônios?

Franco Volpi

E como Ernst Junger espera: poderemos algum dia ultrapassar a linha?

Veja também uma resenha em vídeo e entrevista com o autor:

No vídeo acima é citada uma resenha (Ver tradução) de um autor nórdico: Karl Ove Knausgaard. A autora do vídeo recomenda a resenha colocando o link abaixo do vídeo no Youtube.

Da entrevista no vídeo acima surgiu o interesse em ler a obra citada pela repórter como auxiliar na decifração do pensamento “houellebecquiano”: Houellebecq Economista, de Bernard Maris, seu amigo imolado no ataque ao Charlie Hebdo.


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