Estado policial no Brasil
author:: chicoary
source:: Estado policial no Brasil
clipped:: 2023-10-22
published:: julho 15, 2016
A sabedoria popular já estabeleceu que o delator é desprezível. Filmes já retratam repetidamente o delator, que mesmo tendo prestado um serviço aos que o pressionaram a delatar, como abjeto. Para o povo nenhuma delação é justificável pois é um caso de deslealdade absoluto. O povo não admite uma relativização em relação a isto. O delator é sempre a favor de um sistema opressor do povo quando se trata de política de um estado policial. Um delator busca as suas “moedas” mesmo quando arremessadas ao chão ou numa latrina fétida.
Um estado policial começa por enganar o povo para acreditar que o alcaguete é benéfico. A imagem do “homem de bem” apontando o dedo para um bandido declarado é vendida como moralmente defensável pois é para o bem comum. Mas destampa todo um mercado que não é para o bem comum que é uma bolsa de valores de fascínoras de cada lado da linha traçada entre inquisidores e delatores.
Hoje no Brasil se aplaude bandidos que delatam outros bandidos na esfera dos crimes com o patrimônio público envolvendo altas quantias. Numa vingança vicária o povo se sente parte da “justiça” e esquece assim da sua impotência cotidiana.
Num estado policial a delação se espraia como modo de vida e assenta todos os cidadãos numa empreitada de baixo valor moral. Se a coisa prossegue não haverá diferença em relação aos estados totalitários em que a delação é um valor e cada um se esmera em ser dono de informações para alimentar a paranóia coletiva. As informações nem precisam ser verdadeiras porque começa uma poderosa inversão. O que antes era uma deslealdade de quem participou da intimidade de alguém e usou da confiança para trair vira uma prova de lealdade a uma força maior. Este é o tecido base do fascismo. Filhos delatam pais, amigos e qualquer um que o estado considere fora da “moral” estabelecida pela sua propaganda. Numa delação a que você assiste passivo um teatro em que algum terceiro parece “dançar” talvez o otário seja você.
Dedo duro – Bezerra da Silva