É a direita, estúpido
author:: chicoary
source:: É a direita, estúpido
clipped:: 2023-10-24
published:: junho 23, 2018
A sugestão de Bolsonaro de metralhar a Rocinha já está em curso. Na Maré. Nas favelas. Com helicópteros. Embora negado. Mas confirmado em liminar derrubada.
‘Bandido não carrega mochila’, diz mãe de aluno de 14 anos morto no Rio. E o Crivella promete: “aplicar uma argamassa blindada em escolas do Rio para evitar as balas perdidas, mas até agora isso não foi concretizado [Ou concretado?]. ‘Há meses que eu estou aguardando o laudo da Polícia Civil. Ela já foi testada contra pistola e fuzil e foi um sucesso'”.
A Pietà Negra é sempiterna no Brasil. Mesmo se a cor da pele não seja exata. Porque insuspeitos brancos são negros. Em nossa nação miscigenada todos somos negros. Por dívida, pelo menos. Podíamos dizer ‘somos todos negros’ como já se disse ‘somos todos Charles’. Aderir a Vinícius, ‘o branco mais negro do Brasil’ segundo ele mesmo. Podíamos dizer ‘somos todos Marcos Vinícius da Silva’. Que ‘somos todos crianças’. Nem que seja no coração. E repetir ‘somos todos Marielle’. Podíamos dizer ‘somos todos bandidos’. Porque assim nos querem? Por que assim nos querem? Porque assim nos querem. E fazer coro a Clarice Lispector em 1978. E de ‘somos todos’ em ‘somos todos’ construir uma indignação maior. Que seja uma bola de neve em avalanche. Apesar dos trópicos. Nossos tristes trópicos. Imparável. Até a mudança.
A direita promete e cumpre. Todos os discursos da extrema direita não são bravatas de um doido ou político títere de marqueteiros. Não se engane. A polícia e todo o aparato repressivo construído com o pseudo-objetivo de defender o povo contra os bandidos é milícia da direita. O povo paga regiamente seus algozes. Já é o caso de pensar que ganham muito do próprio povo para um inimigo tão declarado do povo. Não é só na China que pagam a bala dos condenados. Aqui somos condenados todos. E sempre pagamos a bala.
É a direita, estúpido. Não custa repetir.
E o Crivella, do ‘plano de poder‘, se esmera para transformar as escolas em bunkers. Aparentemente para proteger as crianças das balas. Dos bandidos? Não! Com certeza não. Para limitar os danos de uma operação de guerra que é a intervenção militar. É mais fácil justificar a morte de um adulto. Afinal são todos suspeitos ou culpados, mesmo se provando o contrário. Não é novo o episódio. Já vai esquecida a Pietà Negra.
Está em andamento uma ordem de extermínio baseada no precogs do minority report da direita brasileira que advoga o extermínio também dos ‘bandidos em formação’. A justiça foi mais radical. Impediu o ‘bandido espermatozoide’ de ter um óvulo para chamar de seu. Esteriliza mulheres de rua indefesas contra o Estado e o seu monopólio da violência. Afinal bandido morto vai pro céu do Crivella. E não se iluda. Não há mal em matar bandidos porque irão pro céu do Crivella. Onde todos são perdoados. Afinal os católicos já aboliram o inferno. Os evangélicos de direita fundam o inferno na terra e a hóstia de chumbo, passaporte para o céu de Crivella. Uma sugestão de trocadilho. Será crive ela que o céu a espera. Somente se crivada de balas.
E a mãe incorpora o discurso do poder que individualiza o mal e inocenta as corporações e braços repressivos do Estado. O tipo sócio-psicologico do ‘policial despreparado’ socorre os espíritos desesperados por um consolo e explicação para o absurdo. O absurdo do filosofo norte africano se realiza como realidade além da filosofia. A direita anda reinterpretando o existencialismo e dando uma ajuda para a realização do absurdo. Para sua humanização. E também sua naturalização.