A verdade nua e crua para reflexão num dia de greve geral
author:: chicoary
source:: A verdade nua e crua: para reflexão num dia de greve geral
clipped:: 2023-09-20
published:: abril 28, 2017
Nota:
Eduardo Marinho tem outro vídeo (Ver abaixo) onde é alcunhado de “filósofo da rua”. Na minha opinião é um “nietzschiano” de madeira boa. Creio que se aproxima bem do tipo “Übermensch” descrito por Nietzsche no seu Zaratustra. Com certeza não é o “último homem”. Não pelo seu apreço ao homem desprotegido ou pobre, representado na grande massa de homens explorados e inferiorizados, mas pelo apreço à força trágica desses indivíduos que superam as adversidades. Parece repetir, no subtexto, o adágio nietzschiano “Aquilo que não me mata, só me fortalece”.
Veja abaixo mais vídeos sobre o Eduardo Marinho.
Ver “eduardo marinho” no Youtube.
Em Nietzsche: A morte de Deus, o nascimento do Superhomem para enfrentar o niilismo e polêmica com os nazistas há trechos que conceituam o Übermensch com características bem próximas do que propõe o Eduardo Marinho para a sua própria vida:
- O Übermensch experimenta a vida com maior intensidade e profundidade do que a humanidade comum
- O Übermensch cria seus próprios valores, ao invés de apenas aceitar os ensinamentos morais dos outros.
- O Übermensch “vive perigosamente” no sentido de que ele valoriza coisas como novidade, criatividade, rigor intelectual, honestidade consigo mesmo, e intensidade da experiência, ao invés de mero conforto; ele procura alegria, não contentamento.
- O oposto do Übermensch é o “último homem”, termo de Nietzsche para o tipo de pessoa que não deseja nada além do conforto e satisfação.
- O modelo para o Übermensch é o herói aristocrático, o tipo de indivíduo com grande alma representados por figuras da mitologia grega. Mas a grandeza do Übermensch é espiritual; se ele é um guerreiro, é no reino do conhecimento, ideias, e as artes.
- O Übermensch ama a vida e o mundo para o último grau: ele quer o eterno retorno de todas as coisas, incluindo a sua própria vida, e até mesmo a vida daqueles que ele despreza. Isto é, independentemente de a doutrina do eterno retorno ser realmente verdade, ele deseja que ela seja verdadeira.
Ainda no artigo citado acima é analisada a importância do conceito do Übermensch:
Quão importante é o Übermensch na filosofia de Nietzsche como um todo?
A ideia do “SuperHomem” Übermensch está intimamente associada com Nietzsche, e muitas vezes é considerada estando no centro de seu pensamento, juntamente com conceitos como o eterno retorno e a vontade de potência . Na verdade, porém, ele só aparece em um livro: Zaratustra . Dificilmente é mencionado em algum dos seus outros escritos publicados, e só ocorre ocasionalmente nas notas que foram finalmente publicadas por sua irmã como A Vontade de Poder.
Por que ele parece abandonar a ideia do seu Superhomem depois de Zaratustra? Uma explicação plausível é que a ideia de uma espécie de ser humano que é tão distante de nós como nós somos do macaco não pode realmente inspirar-nos, uma vez que realmente não pode ser imaginada. Consequentemente, nas obras que vêm depois de Zaratustra, Nietzsche se concentra em descrever o indivíduo de alma grande, o tipo de pessoa que é “nobre”.
O conceito do Übermensch em Nietzsche está ligado à idéia de um tipo que estaria apto para abraçar a revelação acachapante do “eterno retorno” e usar como ferramenta cotidiana o “amor fati”. Os nazistas, com ajuda da sua irmã, idealizaram o homem superior cujo modus operandi não podia se desviar da supressão e opressão de “raças inferiores”. Nietzsche abandonou a idéia de superioridade como diferença em favor da autonomia e do jardim acolhedor com uma convidativa porta de entrada. Talvez inspirado no “filósofo do jardim“. Jardim onde “Epicuro ignora o ideal cívico e o substitui por um ideal afetivo”.
174. MODA MORAL DE UMA SOCIEDADE MERCANTIL
Por trás desse principio da atual moda moral: “As ações morais são as ações de simpatia para com os outros”, vejo dominar o instinto social do temor que assume assim um disfarce intelectual: esse instinto põe como princípio superior, o mais importante e o mais próximo, que é necessário retirar da vida o caráter perigoso que possuía outrora e que cada um deve ajudar nisso com todas as suas forças. É por essa razão que unicamente as ações que visam à segurança coletiva e ao sentimento de segurança da sociedade podem receber o atributo de “bom”! — Quão poucos prazeres devem desde logo ter os homens para consigo mesmos, para que tal tirania do temor lhes prescreva a lei moral superior, para que se deixem assim intimar sem contestação para não tirar ou desviar o olhar de sua própria pessoa, mas ter olhos de lince para toda miséria, para todo sofrimento dos outros! Com nossa intenção, impelida até o extremo, de querer aparar todas as asperezas e todos os ângulos da vida, não estamos no caminho certo para reduzir a humanidade até transformá-la em areia? Em areia! Uma areia fina, tênue, granulosa, infinita! É este seu ideal, ó heróis dos sentimentos simpáticos? — Entretanto, resta saber se porventura se serve mais ao próximo correndo imediatamente e sem cessar em seu socorro e ajudando-o — o que só pode ser feito muito superficialmente, a menos que se se torne penhora tirânica — ou fazendo de si mesmo algo que o próximo vê com prazer, por exemplo, um belo jardim tranqüilo e fechado que possua altas muralhas contra as tempestades e a poeira das grandes estradas, mas também uma porta acolhedora.
Aurora, Nietzsche
Eduardo “Zaratustra” Marinho aparentemente não quer seguidores. Quer reflexão espalhada à granel nas mentes de todos. Suas falas são construídas na “observação” e na “absorção” de uma compreensão norteadora. Mas que cada um deve adquirir. Não receber dele. E para adquirir é preciso buscar a experiência e o perigo. E ultrapassar o perigo, incólume, com a arma da experiência.
[Atualização em 23/11/2020] O vídeo abaixo percorre praticamente toda a "filosofia" de Eduardo Marinho.