67 anos
author:: chicoary
source:: 67 anos
clipped:: 2023-01-24
published:: novembro 12, 2020
Ontem fiz 67 anos. Na imaginação do que seria um pesadelo que superasse todos os outros não poderia nunca ter vislumbrado o que se vive hoje. Kalki de Gore Vidal ou O Exército dos 12 Macacos poderiam ser sugestões que saltaram da literatura e do cinema numa história de realismo fantástico onde a realidade é filha da ficção. A teoria do Big Bang está sendo desafiada. O Papa gosta dela e diz que confirma o Criador. Descobre-se que um padre católico, com pendores para a matemática, é que a inventou. Mas a compressão do universo lembra a compressão cada vez maior dos ricos, que ganham mais do que a metade do mundo, num ônibus, depois rapidamente numa van ou numa kombi. Brevemente num smart. Quem sabe num átomo primordial a la big bang. E junto com o big bang da compressão dos extratores da mais-valia chinesa no mundo virtual da big techs segue atrás a política imperialista prestes a ganhar um impulso maior com a volta do bi-partidarismo, declarado explicitamente como algo que precisa ser recuperado depois da breve heresia da extrema-direita na cadeira da presidência dos EUA, com a parceria tácita entre republicanos e democratas para definir novos facistódes enrustidos que os tornarão palatáveis para ser a fachada para o deep state da inteligência e do complexo militar. Se Trump quis desmontar o chão de fábrica chinês para o seu populismo junto ao americanos, cada vez mais empobrecidos e jogados na escravidão por dívidas, a nova ordem vai usar a guerra para fazer a américa grande outra vez. Shiva, o destruidor, pode estar, conforme os indianos mitificaram, nessa fase, em ascensão. O criador é o outro lado da moeda. O que vai se destruir e o que vai se criar não podemos saber. Otimistas esperam que o mal seja destruído e o bem passe a vigorar. Pessimistas vão na direção contrária e brincam que no fundo do poço tem uma alçapão que permite sempre afundar mais nas entranhas da escuridão. Mas Shiva é indiferente e junta destruição e criação, bem e mal, indissoluvelmente. E uma criatura ínfima, um vírus de uma peste inusitadamente insidiosa e imprevisível, pode ser seu agente que veio ao mundo para estabelecer seu reinado no andar de baixo onde se situa a maior parte do bioma do mundo. E passa a representar a exposição flagrante da vulnerabilidade de um modo de vida e produção que não resiste a um abalo no cerne da sua lógica de expoliação. Bem no meio de uma crise cíclica do capitalismo vem torná-la mais aguda e expões a sua lógica de exploração de forma mais clara do que nunca antes ocorreu. O coronoavírus, que parece dizer “Mato! Logo existo.”, mesmo evidente como é, é alvo de uma horda, rilhando os dentes, de negacionistas. E os sistema corre a aproveitar uma oportunidade, a segunda maior desde os aviões nas torres, de aumentar a vigilância e os mecanismos de controle com ênfase na servidão voluntária e agradecida pela proteção desse nosso grande e “benevolente” irmão. Mas ao mesmo tempo há uma centelha de suspeita correndo como num rastilho de pólvora que pode atingir um paiol levando a uma explosão de violência contida e sob um tampão por longas eras.
Dante parece não concordar com nenhum otimismo com seu pórtico “Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate.”
Mas e o meu aniversário? O que tem haver. Nada! Foi muito bom e repleto de coisas boas na interação com aqueles que me são mais próximos, quase como um privilégio parecido com estar naquela kombi citada aí em cima. Só que uma kombi cheia de afetos bons e consoladores. Mas hoje voltamos ao mundo…
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